31/10/2011

saudade

“Se, no título de um livro recente, apliquei ao Brasil (e a São
Paulo), o termo saudade, não foi por lamento de não mais estar lá.
De nada me serviria lamentar o que após tantos anos não reencontraria.
Eu evocava antes aquele aperto no coração que sentimos quando, ao
relembrar ou rever certos lugares, somos penetrados pela evidência de
que não há nada no mundo de permanente nem de estável em que possamos
nos apoiar”.
Claude Lévi-Strauss, Saudades de São Paulo.

26/10/2011




A toda hora, toda, toda, toda! Encontro algum trecho de pensamento rabiscado, raganchado, feio, queria não encontrá-los, são bobos e incompletos, repetitivos e clichês e o pior é que são cíclicos, nunca há movimento real ou ruptura. Sem muito esforço é possível ter um enorme deserto de areia branca com muita ventania dentro do corpo, só isso, a ventania não tem significado algum assim como a areia e a idéia do deserto, é como quando tapamos o ouvindo e a ausência de barulho é insuportavelmente mais alta que o próprio barulho. É o som do corpo, da alma?

Chega disso, chega de tocar as coisas e pensar no máximo de adjetivos pra descrever a sensação, não dá mais pra decorar o mundo, olhar tudo, cheirar tudo, estar em uma dúzia de lugares quando só se tem um corpo, só se me tornar um buraco negro por que agora tudo transborda e tem ruídos, muita sujeira e bicho morto. Não sei o que acontece depois disso, um cogumelo atômico, ausência de mim. Sei que o corpo está atrofiando, os braços estão encolhendo e as pernas não tem mais juntas, não enxergo o rosto e a voz sumiu faz tempo. Esse mundo pra se engolir já não interessa, o colocaria num liquidificador tranquilamente, o que fazer enquanto não sou grande o suficiente pra isso? Saio de pijama por aí, sem roupa nenhuma ou roubo uma maçã na quitanda da esquina, não marco meu dedo ou não almoço ao meio dia por que agora eu quero almoçar na hora da janta, desenho rostos nos rostos das pessoas, não sei.